quinta-feira, 5 de agosto de 2010


Violência se aprende nas escolas


                   Des. Siro Darlan – Membro da Associação Juízes para a democracia e do Instituto dos Advogados do Brasil. 
                                      A escola tem por missão primordial a educação integral das crianças, adolescentes e jovens que lhes são confiados. A escola, no entanto, não deve se contentar em saber ensinar e fazer aprender, para que os alunos adquiram os conhecimentos, as competências e habilidades necessários para o prosseguimento dos estudos e atender ás exigências do mercado de trabalho. É indispensável que a Escola ensine a vive e conviver em sociedade.
                                      É preciso levar os alunos a internalizar valores morais e éticos, para formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, sua responsabilidade social, além de serem agentes da construção de uma sociedade mais justa, mais solidária, sem violência, sem discriminações. Mais humana.
                                      As pesquisas mais recentes têm mostrado que a Escola tem sido uma instituição marcada pela violência, já que 30% dos alunos já sofreram algum tipo de agressão nas escolas; 36 % já presenciaram um colega ser maltratado pelo menos três vezes durante o ano, caracterizando o bulling. Segundo a pesquisa feita pela ONG Plan Brasil 70% disseram ter presenciado cenas de agressão entre colegas, sendo que 10% foram vítimas de agressão e 3% afirmaram ter sido praticantes.
                                      A matéria jornalística publicada em série por um jornal carioca aponta a violência como um dos principais motivos de evasão escolar. Diante desse quadro de intolerância, a Escola deixou de ser um dos mais importantes espaços para a construção de valores como respeito, amor ao próximo, generosidade, solidariedade.
                                      A reconstrução desse espaço é dever de todos os segmentos da sociedade. O Judiciário como a instituição responsável pela resolução dos conflitos sociais tem uma importante missão nesse contexto de preservação dos valores que restabeleçam a convivência cordial e fraterna na sociedade, reafirmando seu papel de combate ás injustiças sociais e ás desigualdades.
                                      Mostrar aos alunos e familiares que existe um espaço que faz prevalecer o respeito aos direitos violados e tem o papel de distribuição de justiça é um caminho importante para que se possa desenvolver uma reflexão crítica, a tolerância, a compreensão e a solidariedade, além de ensinar aos jovens a necessidade de respeito aos direitos alheios como forma de ter os seus direitos respeitados e conquistarem seus espaços cidadãos para a realização de seus projetos pessoais, profissionais e sociais.
                                      A Visita Programada ao Judiciário é um programa de conhecimento não apenas do espaço da Justiça, mas de todos os agentes que contribuem para o seu funcionamento. Mostrar aos alunos, professores e familiares todo esforço que é feito para fazer girar máquina judiciária e a importância da participação de cada cidadão no aperfeiçoamento do Tribunal de Justiça.
                                      A redução da violência nas escolas poderá advir de um maior conhecimento do processo de garantia dos direitos com fundamento nas regras de convivência social e um maior investimento com as famílias e os profissionais de educação. É importante também que a escola desenvolva atividades que valorizem a reflexão crítica, a tolerância, a compreensão e a generosidade.
                                      Compete também aos educadores uma revisão de suas idéias sobre conflitos, como gerenciá-los e como identificar as origens desses conflitos fazendo com que sirvam interessantes insumos de aprendizagens. A Justiça Restaurativa nas Escolas pode ser uma experiência desafiadora para que os educadores, familiares e os próprios agentes da violência criar suas próprias respostas para essas questões.
                                      Os conflitos são parte da própria vida e devem servir para fazer os jovens construírem através dos próprios valores adquiridos na família e na escola a refletirem na busca de soluções pacificadoras. Daí a importância de se buscar a origem e a natureza dos conflitos para aprender a lidar com eles. A capacidade de lidar com os conflitos transformará a cultura da escola gradualmente conduzindo-a a uma cultura de diálogo que é o único caminho que conduz às verdadeiras mudanças.
                                      Como a escola é o mais eficaz caminho de inclusão social faz-se necessário torná-la sensível e atenta aos conflitos entre o corpo docente, discente e os membros de sua família extensa para que possa se reencontrar como o espaço de acolhimento e reflexão da mais plena cidadania integral.
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Um comentário:

  1. Excelente artigo e trabalho do desembargador Siro Darlan. A resposta a esse anseio popular será, com certeza o surgimento de uma sociedade mais tolerante, organizada, justa e pacífica.
    Muitos são os que fazem apelo pela paz, poucos os que a promovem de fato.
    Educadores têm afastado do magistério em função das condições de seu contexto. Não são poucos os casos que nos chegam dessa violência, semeada desde a infância nas relações sociais e na cultura. São Jogos ( mortais), "Street Fighters", filmes que a permissividade e a falta de uma CENSURA razoável tanto familiar como institucional implementaram no conjunto de "aprendizagens" dos infantes do país.
    O raciocínio silógico de que a CENSURA é um determinante semântico da prática ditatorial fez-nos confundir valores". Da ampla liberdade que se deu ao acesso de conteúdos de países estrangeiros, veiculadores da cultura de guerra, formadora de soldados para o Irã e outros empreendimentos econômicos e políticos formamos soldados dispostos para trabalhar na linha do tráfico e na perceptível guerra civil instalada desde a metrópole ao interior do país.
    Parabéns Literacia pelo seu esforço de PAZ e trabalho engajado em favor de uma nova cultura.
    Parabéns Desembargador Siro Darlan

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